Um levantamento recente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), divulgado pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), acendeu um alerta nacional, um em cada nove adolescentes brasileiros faz uso de cigarros eletrônicos. A pesquisa, que ouviu cerca de 16 mil jovens com 14 anos ou mais entre 2022 e 2024, revelou que o consumo desses dispositivos já é cinco vezes maior do que o de cigarros convencionais.
Mesmo com a proibição da venda no Brasil, a facilidade de compra pela internet e em pontos comerciais informais favorece o acesso, principalmente entre os mais jovens. Em São Miguel do Oeste e região, a situação tem preocupado escolas, órgãos de segurança e profissionais de saúde, que tratam o fenômeno como um problema de saúde pública.
Casos recentes e ação policial
No início deste mês, um adolescente de 16 anos foi flagrado usando um cigarro eletrônico dentro de uma sala de aula no Colégio Estadual, no centro de Palma Sola. O dispositivo havia sido comprado por R$ 150,00 em um mercado da cidade. O produto foi apreendido e a Polícia Militar registrou boletim de ocorrência, encaminhando o caso para investigação dos responsáveis pela venda a menor de idade.
Segundo o sargento da Polícia Militar, Rodrigo Mezandri, as primeiras apreensões em escolas ocorreram em 2023.
“Havia poucos registros formais, o que dificultava o planejamento de ações preventivas. A partir de 2024, orientamos que cada flagrante fosse transformado em boletim de ocorrência. Isso permitiu mapear a realidade e agir de forma mais efetiva. Hoje já colhemos resultados positivos, com queda nos casos em 2025”, afirmou.
Mezandri reforça que vender cigarros eletrônicos é crime e que a fiscalização não cabe apenas à polícia ou à escola.
“Pais e mães precisam acompanhar o que os filhos fazem, o que levam para a escola e até o que pesquisam na internet. Muitas situações poderiam ser resolvidas no âmbito familiar, antes de se tornarem casos criminais”, alertou.
Atuação do Conselho Tutelar
A conselheira tutelar Evanice Whonski relata aumento de ocorrências envolvendo adolescentes e vaporizadores.
“Recebemos notificações de escolas, famílias e da comunidade. Quando chega até nós, orientamos sobre os riscos, conversamos com a família e, se necessário, encaminhamos para atendimento médico e psicológico. A venda para menores é ilegal, e defendemos que os responsáveis sejam punidos para evitar a continuidade dessa prática.”
O Conselho também atua em parceria com escolas e rede de saúde, promovendo palestras e rodas de conversa sobre prevenção.
O papel das escolas e da rede de proteção
Para a assistente social do Núcleo de Prevenção (NEPRE) da Coordenadoria Regional de Educação de São Miguel do Oeste, Graciela Ribeiro Marks, o problema exige atuação integrada.
“A escola precisa estar preparada para compreender fenômenos sociais como este. Desde 2024, realizamos ações conjuntas com CAPS, universidades e Polícia Militar, levando informações sobre os riscos e procedimentos em casos de uso de cigarro eletrônico.”
Ela destaca que fatores como falta de diálogo familiar, influência de amigos, redes sociais e marketing contribuem para a experimentação.
“O adolescente busca pertencimento e, muitas vezes, encontra em grupos externos o incentivo para o uso.”
Riscos à saúde
A médica pneumologista Mariana Hammes alerta que, assim como o cigarro convencional, o cigarro eletrônico contém substâncias químicas nocivas, muitas cancerígenas.
“Podem causar doenças pulmonares, cardiovasculares, aumentar risco de trombose, AVC e infarto, além de piorar a saúde bucal e abrir portas para outras drogas. A dependência é alta devido à grande quantidade de nicotina.”
Ela defende campanhas educativas e apoio aos jovens que desejam abandonar o vício.
“É preciso mostrar os reais malefícios e oferecer suporte para que consigam parar.”
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