Notícias

Alesc debateu crise do leite em Santa Catarina e medidas emergenciais

Alesc debateu crise do leite em Santa Catarina e medidas emergenciais
Foto: Rodrigo Corrêa/Agência AL

Santa Catarina vive, em 2025, uma grave crise no setor leiteiro, que afeta diretamente a economia rural e a sobrevivência de mais de 30 mil famílias produtoras. Preocupada com essa situação, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), por meio da Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural, realizou, na noite de quarta-feira, 12, uma audiência pública para debater a crise e buscar soluções conjuntas.

O encontro reuniu deputados estaduais, representantes do governo estadual, Sindileite, Ocesc, Faesc, cooperativas e produtores rurais, e teve como objetivo discutir medidas emergenciais, como o controle das importações, o apoio financeiro temporário e o incentivo à industrialização e à agregação de valor ao leite produzido no estado. O auditório Antonieta de Barros ficou lotado por trabalhadores que carregavam no peito um adesivo dizendo: Luto pelo Leite.

Queda no preço e desestímulo à produção

Nos últimos meses, o preço pago ao produtor despencou de cerca de R$ 2,40 para menos de R$ 1,80 por litro, valor que não cobre os custos de produção, pressionados pelo aumento do preço do milho, do farelo de soja, da energia elétrica e do transporte. Segundo dados da Epagri/Cepa, o estado registrou uma queda superior a 10% na produção em relação ao mesmo período de 2024, reflexo do desestímulo e do abandono da atividade por pequenos agricultores.

Ações e encaminhamentos

Durante a abertura da audiência, o presidente da Alesc, deputado Julio Garcia (PSD), destacou a importância do encontro como mais uma demonstração da preocupação do Parlamento estadual com os principais temas que afetam Santa Catarina. “O objetivo desse encontro é o debate, é buscar soluções conjuntas para o problema do baixo preço do leite, que vem massacrando os produtores rurais catarinenses. O tema será levado também à bancada federal, por meio do Fórum Parlamentar Catarinense, a fim de sensibilizar o governo federal e acelerar medidas de apoio ao setor.”

Garcia ainda destacou que “Santa Catarina é um estado essencialmente agrícola e um dos pilares do agronegócio nacional. Portanto, a união entre produtores, parlamentares e instituições é o caminho para encontrar soluções práticas e eficazes para o setor leiteiro”, comentou.

Panorama nacional e propostas

Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o preço médio nacional do litro de leite pago ao produtor apresentou forte queda nos últimos meses, passando de R$ 2,66 em outubro de 2024 para R$ 2,22 em 2025. A redução preocupa o setor e tem provocado prejuízos expressivos aos produtores catarinenses, responsáveis por cerca de 8% da produção nacional.

O deputado Altair Silva (PP), presidente da comissão realizadora do evento e também propositor da audiência, destacou que a situação é urgente e exige ações coordenadas entre governo e setor produtivo. “O produtor de leite está no limite. Juntos, debatemos e ouvimos saídas para os mais de 20 mil produtores catarinenses. Somos o quarto estado em produção nacional e não podemos permitir que essa crise comprometa uma das cadeias mais importantes do nosso agronegócio. É hora de unir forças para garantir que o leite continue sendo sinônimo de sustento, dignidade e desenvolvimento no campo catarinense”, comentou o parlamentar. “Estamos trabalhando para que o projeto do leite em pó seja aprovado nos três estados do Sul.”

Importações e concorrência desleal

Outro fator agravante é a entrada de leite importado de países do Mercosul, especialmente Argentina e Uruguai, que chega ao mercado brasileiro a preços até 30% mais baixos. Essa concorrência desleal tem levado laticínios locais a reduzir a compra de leite catarinense, ampliando o prejuízo dos produtores.

O presidente da Alesc, Julio Garcia, ainda destacou, em sua fala, a celeridade que a Casa dará ao Projeto de Lei 768/2025, de autoria dos deputados Altair Silva e Oscar Gutz (PL), que proíbe a reconstituição de leite em pó importado para comercialização como leite fluido em Santa Catarina, como medida emergencial para auxiliar o setor.

Projetos em tramitação

Em Brasília, também tramita um projeto de lei que busca amenizar o problema da entrada de leite importado. O PL 4309/23, da deputada federal Daniela Reinehr (PL-SC), objetiva a proibição da importação e reidratação de leite em pó para venda como leite líquido no Brasil. A proposta visa proteger a produção nacional de leite contra importações mais baratas. “Tramita na Câmara dos Deputados um projeto de minha autoria que proíbe a reidratação do leite em pó na indústria. Essa foi a medida mais eficiente para resolver essa situação”, pontuou.

Depoimentos e preocupações do setor

O deputado Oscar Gutz, também propositor da audiência, ressaltou a importância da união entre o Parlamento e os produtores rurais na busca de soluções para o setor leiteiro. “Estamos sempre juntos fazendo o melhor que podemos pela população, especialmente pela agricultura. Sou agricultor e sei da realidade de quem levanta todos os dias às cinco da manhã, sem folga, para garantir o sustento da família. O produtor de leite está no limite. Com o preço atual, abaixo de dois reais, muitos não conseguem mais se manter. Nossa missão é ajudar quem produz, quem sustenta o campo e a economia catarinense. Esperamos que o governo federal faça a sua parte e que, juntos, possamos tirar o produtor dessa situação tão difícil”, concluiu.

Santa Catarina é o quarto maior produtor de leite do país. Só em 2024, o estado produziu cerca de 3,3 bilhões de litros de leite, 100 milhões de litros a mais do que em 2023, segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Visão do setor produtivo

O presidente do Sindileite, Selvino Giesel, alertou, durante seu pronunciamento, que o setor leiteiro brasileiro enfrenta uma “tempestade perfeita”, marcada por uma combinação de fatores que têm gerado forte crise econômica para produtores e indústrias. Segundo ele, houve um aumento da produção de leite em todo o país, impulsionado pela melhora das condições registradas no ano passado. No entanto, o consumo interno está em queda e deve reduzir ainda mais até o fim do ano, período em que historicamente há menor demanda por produtos lácteos.

“Atualmente, 80% dos produtos lácteos são comprados por famílias com renda de até R$ 3,5 mil por mês. Isso mostra a dificuldade que a população está enfrentando, o que se reflete diretamente nas vendas. As importações, que vinham estabilizadas em setembro e outubro, aumentaram significativamente, colocando um volume muito grande no nosso mercado. É importante ressaltar que, entre os dez maiores importadores de leite em pó e UHT, nenhum é uma indústria de laticínios”, criticou.

Medidas sugeridas

De acordo com ele, tanto os produtores quanto as indústrias estão operando com prejuízo. “Hoje, o leite UHT gera cerca de R$ 0,35 de prejuízo por litro produzido. Os estoques estão altos, há pressão para vender mais barato e, mesmo assim, o preço ao consumidor final não reflete as quedas impostas ao produtor e às indústrias”, explicou.

O presidente do Sindileite defendeu medidas urgentes para conter a crise. “Precisamos que o governo federal atue com rigor na fiscalização e na auditoria sanitária das importações. Quando exportamos, somos obrigados a cumprir uma série de exigências. O mesmo deve valer para os produtos vindos da Argentina e do Uruguai, que chegam ao país sem a mesma certificação”, apontou.

Ele também sugeriu ações emergenciais para reduzir o impacto da crise. “O governo poderia comprar leite em pó para diminuir os estoques e suspender temporariamente as importações, como medida de equilíbrio do mercado”, concluiu.

Voz dos produtores

A produtora de leite da cidade de Iomerê, Talita Casagrande, emocionada, enfatizou o trabalho dos agricultores e a busca por dignidade. “Sou produtora de leite por paixão. Minha família é a terceira geração e os meus filhos ajudam a tocar. A gente montou uma estrutura, que tem sanidade nos animais, propriedade certificada, temos uma excelente qualidade, só que isso custa. E, com essa crise, como vamos dar a volta nas contas? O produtor de leite só quer dignidade, só quer pagar suas contas e não encher a paciência de ninguém. A gente só quer ir pra casa, pagar nossas continhas, não dever pra ninguém e não incomodar ninguém. Produtor de leite não quer nada, só quer dignidade”, comentou.

Formação de comissão

Encerrando a audiência pública, foi criada uma comissão que trabalhará estrategicamente junto ao governo federal e ao governo catarinense nas sugestões indicadas durante o amplo debate.

Confira os membros que farão parte:

Os deputados estaduais Altair Silva e Oscar Gutz; o presidente da Faesc, José Zeferino Pedroso; a presidente da Uvesc, Marcilei Vignatti; os prefeitos Chico Folle, de Xaxim; o secretário de Estado da Agricultura, Carlos Chiodini; e o deputado federal Valdir Cobalchini (MDB-SC).

Rede Peperi 
 
----------------------
Receba GRATUITAMENTE nossas NOTÍCIAS! CLIQUE AQUI
----------------------

Envie sua sugestão de conteúdo para a redação:
Whatsapp Business PORTAL SMO NOTÍCIAS (49) 9.9979-0446 / (49) 3621-4806

Cotações

Clima

Quinta
Máxima 25º - Mínima 15º
Céu nublado com chuva fraca

Sexta
Máxima 27º - Mínima 17º
Céu nublado com aguaceiros e tempestades

Sábado
Máxima 26º - Mínima 18º
Céu nublado com aguaceiros e tempestades

Domingo
Máxima 25º - Mínima 18º
Céu nublado com aguaceiros e tempestades

Segunda
Máxima 21º - Mínima 11º
Céu nublado com chuva fraca

Sobre os cookies: usamos cookies para personalizar anúncios e melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade.