Uma nutricionista compartilhou nas redes sociais um relato sobre o atendimento a um menino de 10 anos em estado de desnutrição. No relato, ela afirma que o garoto só se alimentava de arroz e feijão e não aceitava mais nenhum tipo de alimento.
Ao perguntar a razão desta atitude, a nutricionista Verônica Petry Nunes, de 23 anos, teve a resposta de que ele havia parado de comer porque sabia que a comida estava cara e a mãe não possuía dinheiro suficiente.
O atendimento ocorreu na terça-feira (24) em Joinville, no Norte catarinense.
"Ele me disse que parou de comer porque a comida está cara e a mãe dele, sem dinheiro. Ele percebia que se ele comesse, estava comendo um dinheiro, então decidiu não comer porque, na cabeça dele, estava economizando", disse Verônica.
Verônica afirma que teve conhecimento do caso do garoto após indicação de pessoas próximas sobre a situação da família. Ela foi até ao local para entender melhor a situação.
A nutricionista contou que a mãe acompanhou a conversa até um determinado momento e em dado momento pediu para que ela se retirasse. O procedimento, segundo ela, é comum.
Foi neste momento que o menino informou sobre a situação. Ela afirma que se emocionou após o atendimento.
Verônica presta consultas particulares e também atendimentos sociais, em que muitas vezes não cobra pelo serviço. Segundo ela, situações parecidas não são incomuns na cidade.
"Já atendi outras situações parecidas. Infelizmente, isso acontece com bastante frequência. Mas é sempre um susto, uma dor no coração", afirma.
Verônica não informou o bairro em que a família mora para, segundo ela, garantir sigilo e privacidade à família. A nutricionista afirma que ofereceu opções de ajuda para a família através do atendimento do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e de Organizações Não Governamentais (ONGs).
Repercussão
Até o 13h desta quinta-feira (26), a postagem de Verônica estava com mais de 29,6 mil compartilhamentos e 245,5 mil curtidas em uma das redes sociais.
Com a repercussão, várias pessoas entraram em contato para ajudar a família de alguma forma. A nutricionista informou que está organizando pontos de coleta para doações.
Sem renda, sem comida
Segundo a última atualização feita pelo Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, em maio de 2021, 126.421 famílias inscritas no programa vivem em Santa Catarina com renda de zero até R$ 89 mensais, o que define a extrema pobreza. Ao todo, o estado tem 439.485 famílias de baixa renda cadastradas.
"Isto contrasta com a ideia de que Santa Catarina é uma Suíça brasileira. Há uma grande dificuldade em realizar o debate de que, no estado, há pobreza e insegurança alimentar. Há uma propaganda elitista e higienista de que o estado é rico. Mas não é, há diversas contradições", diz o presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional de Santa Catarina (Consea), Lucidio Ravanello.
Para os pesquisadores, a renda é um dos fatores determinantes para definir a insegurança alimentar da população. A insegurança alimentar é a falta do acesso pleno e regular a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, como moradia.
A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar apontou que, no ano passado, Santa Catarina apresentava de 4% a 10% da população em situação de insegurança alimentar grave, o que se chama de fome. Os dados são do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil.

Fonte: G1 e Visor Notícias